segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

A virtude do bago, parte 2

Segundo dados do dataFerla, pesquisados por meu colaborador Almeida Jr., o 'bago com matada' existe desde 1972.
O dito cujo foi inventado pelo zagueiro Beto Fuscão, mas a versão original não previa o posterior chute para o gol. Acredita-se que o manual seguido por Joe Cole e Maxi Rodriguez na Copa de 2006 seja uma adaptação do item 3 da criação do mestre Rigoberto, que fala em 'matada no peito e posterior bago para fora do estádio' -infelizmente a globalização e o capitalismo, esses inimigos do bom futebol, inventaram o estádio coberto, tirando do rude esporte bretão a espontaneidade do bom zagueiro, como já registraram em seu best-seller "O Medo do Atacante da Marca das Minhas Botinas", os escritores/zagueiros Donga & Roberto Festenseifer.
Alfarrábios encontrados em Pelotas creditam ao meio-campista Alamir a feitura no primeiro golo com um bago depois de uma matada no peito, em 1975, no estádio da Montanha, em peleja contra o Esportivo de Bento Gonçalves. Mas a jogada foi anulada pelo árbitro Agomar Martins, atendendo ao aceno do bandeirinha Justimiano Goularte (ou seria o Hermínio Goulart?), pelo excesso de frescura, nenhuma novidade quando produzida por um jogador pelotense.
O primeiro bago com matada no peito e posterior chute para fora do estádio deu-se num clássico Bá-Guá, realizado no estádio da Pedra Moura, em Bagé. Beto Bacamarte foi o autor.
Curiosamente, ambos os Betos foram jogar junto no Grêmio, comandados pelo saudoso Carlos Froner, formando uma zaga histórica que começava com Jair, Le Petit, a versão negra de Barthez, e os laterais Vilson Cavalo e Jorge Tabajara. Froner, como se sabe, foi o grão-mestre de Felipão. Que nunca conseguiu matar uma bola no peito.

A virtude do bago, parte 1

Deu um bago!
Essa tradicional expressão dos campos de futebol gaúcho, invariavelmente acompanhada do nome de algum zagueiro tosco seguidor de Oberdan, ja salvou muito time de levar um gol. Hoje, até esses 39 do primeiro tempo de Inglaterra X Suecia, o J.Cole, acabou de reinventar o bago. A pelota de couro veio, o indio velho britânico matou no peito e deu um baita dum bago em direção à cidadela de Isaksson: e não é que a bicha entrou?
J. Cole, today we salute you, o homem que globalizou o bago!
(by Zico, 2006)

Cranky

Faz tempo que não leio meu biorritmo. Lembram que esta era a grande inovação tecnológica da Copa de 78? Junto com o Bingola Disney (que grande escolha dos propagandistas cocacolianos, não?). Lembro de ler preocupado que o Nelinho estava bem fisicamente mas que o Dirceu tinha previsões funestas. Pra não falar do Roberrrto Dinamiiite e do Galinho de Quinino, que nem imaginava que o futuro seria ainda mais amargo pois ia treinar um bando de olho puxado. O Nakata não ficou bem com aquele cabelo. Aliás aquela coleção de topetes nipônicos só perde pro do Luigi pedindo insistente e sorrisisticamente que mandemos mais e mais torpedões. Nesta hora que antecede o rruego, queria ser ar-rrentino e não temer um timeco como o da potência futebolistica australiana, que eliminou a gloriosa celeste depois de um shô de futebór. Ainda deve ser efeito de Surriá, um derradeiro pós-trauma de saltissealta aguda.
(by Zeca Fialho, 2006)

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

i-jota é + legal que y



Meu pai comprou uma TV pra ver a Copa de 70. Philips. Ele ainda hoje prefere Philips. A Telefunken que compramos depois durou pouco. Eu tinha só 5 anos –quando chegou a Philips. P&B. Com um botão giratório pra tocar de canal. Ia muita gente ver os jogos lá em casa. Adultos. Eu via um pouco. Não sobrava muito espaço pra mim. Eu achava um saco. O Brasil ficou tri-campeão, mas eu não comecei a gostar de futebol por causa do tri. Eu era criança demais pra ser influenciado por aquela corrente pra frente. Em seguida, lembro do Jairzinho marcando contra Portugal, em 1972, e da despedida do Pelé, acho que contra a Iugoslávia. Eu tive TV, idade e interesse por futebol pra ver todas as despedidas do Pelé. E tinha 9 anos em 1974.
A Copa da Alemanha me marcou definitivamente. Vi tudo. Sei as escalações de Alemanha, Holanda e Polônia de cor. Lembro do Kakoko, do Haiti, de onde vi os principais jogos, de o quanto matei aulas, do Zagallo gritando “puta merda” contra a Alemanha Oriental do Sparwasser e do meio-campo da Argentina: Brindisi, Babington e Balbuena. Lembro da Holanda derrotando o Brasil e de até ter gostado daquilo, ainda que não tivesse traduzido para mim mesmo por qual motivo. E de torcer pra Holanda contra a Alemanha, contra a corrente, afinal não era de bom tom torcer contra quem ganhou do Brasil. A Holanda perdeu. A Copa de 74 foi a Copa da Holanda.
Só um tempo depois fui entender como a Laranja Mecânica se encaixava na minha vida: era desafiadora, diferente, vinha do frio, usava uma cor estranha e tão budista, laranja, e o goleiro era o número 8. Aquilo era modernidade, vanguarda, desafio. Eu, aquariano convicto, sempre gostei de flertar com isso. Nunca mais torci pra outra seleção depois de 74 –em 82 a Holanda não se classificou e o Brasil me decepcionou. Tudo bem, o Falcão era colorado, e tinha me feito sofrer muito nos anos 70, jogando pelo Inter –já falei isso pra ele, enquanto dividíamos um café na redação da Zero Hora.
A Holanda, do meu ídolo Cruijff, meu craque do jogo de botão, assim mesmo, com IJ em vez de Y, e o Ajax, de Cruijff, o cara que não tinha uma listra da Adidas do uniforme porque tinha contrato com a Puma, foram os times que fizeram a cabeça da minha geração.
Era o futebol total do genial Rinus Michels, e eu não tinha nenhuma memória afetiva que me fizesse crer que haveria algo melhor –e o Inter era o melhor time brasileiro dos anos 70, e o Grêmio tinha Beto Bacamarte e Vilson Cavalo, era bem apropriado ter alternativas do outro lado do oceano.
Dos 9 anos 29 anos não vi o decantado futebol brasileiro ganhar nada. E com 29, em 1994, ano do tetra, não tinha mais como mudar. Dei cambalhotas de alegria quando o Bergkamp empatou para a Holanda, contra o Brasil de Romário. E quando o Kluivert empatou em 98. E até chorei de alegria na frente da TV, outra Philips, de origem tão holandesa quanto a de 70, mas colorida, quando o Van Basten deu o título da Eurocopa pra Holanda, num sábado de manhã, 10 anos antes.
E o 17 do Real Madrid? Ruud Nistelroij, assim mesmo, com IJ.